Conflito e Poder: a visão de Gareth Morgan
Como consultor, freqüentemente sou perguntado sobre como lidar com conflitos quando se gerencia um projeto. Para responder essa pergunta, trago a visão do autor Gareth Morgan, exposta no livro Imagens da Organização (Editora Atlas) a respeito do uso do poder. Trata-se de um autor clássico, muito lido nos cursos de administração.
O poder é o meio através do qual os conflitos de interesse são, afinal, resolvidos. Segundo esse autor, o poder influencia quem consegue o quê, quando e como. Morgan relaciona as fontes de poder mais importantes de poder que podem existir numa organização:
Autoridade formal
Essa é a fonte primária e mais clara de poder. É o poder legitimado através de processos formais. As pessoas passam então a reconhecer que determinada pessoa tem determinado poder e que devem obedecê-la.
Controle sobre recursos escassos
O controle sobre qualquer recurso escasso sempre gera poder. E isso independe até mesmo da posição da pessoa na organização. A pessoa que detém o controle de algum recurso escasso que interessa à outra pessoa, imediatamente torna-se poderoso.
Uso da estrutura organizacional, regras e regulamentos
Embora regras e regulamentos possam muitas vezes ser vistos como instrumentos racionais que pretendem ajudar no desempenho de uma tarefa, nem sempre isso é verdadeiro. Muitas vezes as regras e regulamentos impostos são fruto de uma luta pelo controle político de algo. A burocracia, como se sabe, pode ser um forte instrumento de poder. Aqui no Brasil, isso é tão verdadeiro que diversos ramos de negócio florescem na sombra do cipoal de regras e regulamentos.
Controle do processo de tomada de decisão
A influência em processos decisórios sempre constitui fontes de poder. Sem que perguntas parecidas com as listadas a seguir forem feitas, pode ter certeza de que o jogo do poder estará sendo jogado:
- Como deve ser tomada essa decisão?
- Quem deve fazer parte dessa decisão?
- Quando deve ser tomada essa decisão?
- A tomada de decisão exige que um estudo seja apresentado perante uma comissão?
- Quais valores ou restrições envolvem a tomada da decisão?
Controle do conhecimento e da informação
Quem controla o conhecimento e as informações que cercam os fatores que influenciam uma decisão possui poder. A empresa torna-se dependente do conhecimento e das informações que essa pessoa possui.
Controle dos limites
Toda vez que alguém possui controle sobre as interfaces possui poder. Uma secretária, por exemplo, pode exercer um poder muito maior do que seu cargo ao determinar quem tem acesso ao seu chefe. Além disso, ela pode, por exemplo, ressaltar ou minimizar a importância sobre eventos ocorridos em determinados locais da empresa. Afinal de contas, muitas vezes, a secretaria age como um elemento de ligação entre o chefe e as áreas da empresa.
Habilidade para lidar com a incerteza
Toda organização opera em um ambiente de incerteza. Sendo assim, qualquer um que tenha habilidade para diminuir as incertezas, adquirem poder. Uma pessoa que tem conhecimento crítico sobre como resolver problemas num equipamento crítico, reduzindo assim as chances de parado do mesmo, possui poder. Um analista de mercado com mais e melhores informações que seus colegas, poderá decifrar com mais clareza os sinais do mercado. Com isso pode diminuir as incertezas da empresa. Isso o levará a ter mais poder.
Controle da tecnologia
Aqueles que dominam o conhecimento sobre determinadas tecnologias críticas para a empresa, tem mais poder. Aqueles que controlam o acesso aos recursos tecnológicos também têm poder. Certos profissionais da área de tecnologia da informação nem sempre possuem um alto cargo hierárquico na empresa. Mas podem ter alto poder para negar acessos aos recursos computacionais críticos da empresa.
Alianças interpessoais, redes e controle da “organização informal”
Amigos altamente colocados na organização, patrocinadores, mentores, coalizações e redes informais constituem fontes de poder. Através desses mecanismos as pessoas podem obter informações privilegiadas. Podem também obter favores que de outra forma não seria possível.
Controle através de contra organizações
Sindicatos são exemplos de contra organizações. Mas existem outros exemplos. Institutos de defesa do consumidor e organizações não governamentais são exemplos de contra organizações que podem adquirir enormes poderes. A região do ABCD no Estado de São Paulo, por exemplo, foi o centro da industrialização do Brasil. Nessa região os sindicatos adquiriram altíssimo poder. O poder desses sindicatos foi tamanho que resultou no êxodo das empresas daquele pólo industrial. A ação dos sindicatos tolheu de forma significativa a liberdade das empresas de tocarem seus negócios como bem queriam. Por conta disso, a melhor solução encontrada por muitas indústrias foi sair de lá. Ficava mais fácil e mais barato do que enfrentar o poder dos sindicatos.
Simbolismo e administração de significado
A administração dos sentidos ligados à situação é uma forma de poder simbólico. Nesse caso faz-se uso de imagens, teatro e a arte de ganhar sem romper as regras do jogo. O Presidente da República é um exemplo disso. O Presidente tem, de fato, um poder formal, legitimado pelas urnas. Mas isso não significa que a enorme e pesada estrutura do governo obedece prontamente às suas ordens. O Presidente Lula é um mestre no uso do simbolismo e na administração de significados. O poder real dele de ser obedecido é muito menor do que usualmente se costuma pensar.
Sexo e administração das relações entre sexos
A diferença entre sexos está diretamente relacionada com a questão de poder. Certas organizações são dominadas por valores relacionados a um dos sexos. Dessa forma as organizações segmentam as estruturas de oportunidades e mercados de trabalho para homens ou para mulheres conforme o caso. Não é à toa que as grandes empreiteiras brasileiras nunca tiveram como presidente uma mulher. Será que algum dia a Camargo Corrêa, a Odebrecht ou a Andrade Gutierrez terão uma mulher como Presidente? Pode ser. Mas no futuro próximo isso não é provável. Por outro lado, empresas como Avon, Walita e Berlitz têm (ou já tiveram) mulheres como executiva s principais aqui no Brasil.
Fatores estruturais que definem o estágio da ação
Segundo essa perspectiva, as empresas precisam ser entendidas pelo seu contexto histórico. Em um dado momento, existe sempre uma variedade de atores políticos, legitimados por uma grande variedade de bases de poder. Isso define a lógica de poder da empresa em cada momento.
O poder que já se tem
A presença do poder atrai e mantém pessoas que desejam se alimentar aquele poder. Isso serve para aumentar o poder dos próprios detentores do poder. Segundo Morgan, na esperança de obter favores, as pessoas podem começar a emprestar ao detentor de poder um apoio gratuito, ou adotar a sua maneira de pensar. Isso aumenta o poder daquele que está no poder. Outro aspecto importante é que o poder é estimulante. Quando uma pessoa vivencia progresso ou sucesso, fica energizada. E isso leva à busca de mais progresso e poder.
Caro Alvaro,
Achei muito interressante esse artigo. Irei comprar esse livro com certeza.
O primeiro passo para ser-mos bem sucedidos na resolução de conflitos, é entender a estrutura do poder.
Abs,
Custódio
Obrigado Alvaro, o seu texto me foi muito útil para meus estudos.
Fiquei muito interessado no tema e vou comprar esse livro para me aprofundar.
Grande Abraço.